As mesmas pessoas em todos os lugares ao mesmo tempo

Captura de imagem do personagem Data, de Goonies


Esses dias eu estava zapeando a TV quando peguei Goonies bem no inicinho. Naquela parte que eles ainda estão na casa, sabe, quando entramos na bagunça divertida que é aquele grupo de amigos.

Fazia muito tempo que não assistia, com certeza bem antes de ver Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Muito antes de ver a atuação maravilhosa do Ke Huy Quan e tudo que ele falou sobre sua experiência na indústria do cinema.

Quando o Data entrou em cena, eu abri um sorriso imediatamente. Foi como aquelas correntes de dia das crianças em que você vê como já foram as pessoas que sempre conheceu adultas. Era apenas um moleque se divertindo fazendo um filme, mas… tudo o que vi de atuação de Ke Huy Quan hoje já estava ali de alguma forma. Claro, era crua, inocente, sem tanta técnica. Ao mesmo tempo, com os mesmos trejeitos, os mesmos olhares. A mesma pessoa.

Essa constatação me deixou um tanto pensativo na hora. E o incômodo persistiu um tempo depois. Será que a gente não muda tanto assim por mais que ache que está mudando?

Eu não tenho muitas fotos e muitos filmes para me ajudar a lembrar da minha infância. A maioria delas são de mais pequeno, já que sempre fugi das câmeras quando tive idade o suficiente para desenvolver o medo de aparecer.

Deve ser por isso que eu acho fascinante ver pessoas que conheço, pessoalmente ou não, em suas versões pequenas. Parece uma cápsula da essência que representa aquela pessoa. Tudo o que já estava lá e ainda está hoje. Será que esse é o verdadeiro eu enterrado em nossas personalidades em transformação?

Se paramos para pensar no trajeto de uma pessoa pela vida, o que mais a define é a transição de criança para adulto. É quando finalmente temos agência sobre o que queremos ser, mas também quando somos mais influenciados pelo que querem que sejamos.

Em todas as mudanças que acontecem nesse período, tentamos criar uma imagem coesa de identidade. Uma silhueta distinta e reconhecível. Alguém que não é mais ninguém além de si.

Mas ao experienciar momentos como esse, como Ke Huy Quan atuando criança com a memória fresca de sua versão adulta, eu fico me perguntando o quanto realmente mudamos e o quanto é só um óculos com bigode em forma de personalidade. O sorriso, o olhar, o jeito de falar, a expressão corporal, são todos traços que estão lá ainda, mesmo com as frustrações que ele mesmo conta ter sofrido ao longo dos anos.

E se não mudamos tanto assim, por que tentamos tanto mudar? É eu sei, pressão social, expectativas, autoestima, tudo isso. Eu não tenho nenhuma formação para entrar nesses temas do jeito que eles deveriam ser tratados.

O que eu penso ao deparar com essa noção é de que isso pode ser um exercício. Será que é possível descascar todas as camadas de tinta na nossa fachada até encontrar a estrutura original? Será que assim é possível olhar para o que somos em nossa base? O que faz de nós o que somos individualmente?

Infelizmente, como eu disse, não tenho material o suficiente para fazer esse estudo. A noção do que eu era na infância está poluída demais com a minha noção de mim mesmo durante o crescimento. Mas eu fico curioso. O que eu fazia lá que ainda faço agora? Será que esse tempo todo eu sou a mesma pessoa?

Vou continuar pensando sobre isso e ver se chego em alguma conclusão. Se conseguir, eu falo por aqui. Provavelmente, nunca. Só vou parar por agora porque cheguei muito perto do Barco de Teseu e eu não quero entrar nesse buraco negro.




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