Este vai ser um texto curto. Curto e reflexivo como um espelhinho de banheiro com moldura laranja.
Sempre tem aquelas horas na vida em que olhamos para trás e nos arrependemos de cada mínima decisão tomada até chegarmos onde estamos.
Quer dizer, eu estou assumindo que todo mundo faz isso. Talvez seja só eu.
Estou em um desses momentos e só queria ventilar um pouco sobre o quão frustrante é isso. É que, na verdade, não é uma questão de me culpar pelas oportunidades que não tive. Eu sei que não controlamos tudo, nem mesmo como nosso cérebro funciona e por que muitas vezes ele resolve não funcionar.
Afinal, nós não criamos o alfabeto e a linguagem, apenas aprendemos a utilizá-los e nos expressar com o que nos dão.
Como um escritor e redator há algum tempo, eu sei bem o quanto é possível passar intenção, ritmo, sentimento com a pontuação certa. Com um itálico no momento exato para quebrar uma expectativa. Com uma pausa no tempo certo para causar suspense.
(Veja bem, não que eu faça isso bem, apenas estou dizendo que sei que é possível)
Entrando em novos dias em que autoestima parece apenas um conceito inventado por outras pessoas e que não deve existir de verdade — como caviar ou currículo de três páginas —, eu percebi dentro desse meu conhecimento o que pode ser a causa de tanta frustração no fim das contas.
Parece que minha vida tinha uma boa base a partir da qual poderia se construir uma boa história. Uma premissa interessante, condições financeiras para suportar o escritor por um bom tempo, vocabulário rico e uma estrutura pronta que era só seguir.
Mas algo deu errado no caminho e é ainda pior pensar em ter tudo a seu favor e mesmo assim não conseguir contar uma boa história de mim mesmo.
Todas as palavras estavam lá, mesmo assim sinto que quebrei páginas na hora errada, pulei parágrafos no meio da sentença, esqueci da vírgula até ficar sem ar. Negritei o que não tinha importância, usei reticências demais.
Dói porque posso falar o mesmo das escolhas de vida e das escolhas profissionais. De mim e do meu trabalho.
Mas, depois de remoer isso um bocado, eu sempre tento tirar alguma coisa positiva desses tempos de revisão. É difícil, bastante. A única coisa que encontrei para me consolar é que a história ainda não acabou. Se eu ajustar alguns pontos da trama e insistir um pouquinho mais no protagonista, quem sabe eu não consigo consertar essa bagunça.
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