Uma montanha-russa que é só a subida inicial

Foto de uma montanha-russa

Texto publicado originalmente em 24 de abril de 2020


Eu não gosto muito de escrever nos dias que a depressão vem mais forte. Depois, quando eu me recupero, volto a ler e relembro que às vezes sou emo demais.

Só que, por outro lado, tem momentos em que tudo o que a gente consegue fazer é buscar uma saída para aliviar a pressão. É isso ou explodir.

Sabe, talvez fosse melhor explodir de uma vez.

Talvez.

Mas vamos tentar a primeira opção de novo só para não dar trabalho de limparem as paredes do quarto.

Tentando produzir na pior hora possível


Passando de um mês em isolamento, eu meio que já esgotei todas a minha capacidade de inverter a lógica das coisas para extrair algum otimismo delas.

A ansiedade começou como uma erupção em março. Daquelas que se sente do outro lado do mundo. Só que, como sempre acontece, saiu tanta lava que ela esfriou, sedimentou e agora é só uma presença constante e inerte.

A depressão toma conta aos poucos como a nuvem de gases saídos da explosão e tampa o Sol. Mas com o tempo a gente se acostuma e melhora nossa visão noturna.

É muita analogia romântica para falar que, ei, eu não estou bem. E nas piores horas para se cobrar alguma coisa, é tudo que eu tenho feito.

Minha produtividade diminuiu muito de uma semana para cá. E no meu caso trabalhar menos significa ganhar menos também.

O meu sistema de defesa imediatamente foi: “Que tal então aproveitar o tempo extra para focar em projetos pessoais? Um conto, um livro, um jogo, algo?”

Sim, eu caí na mesma armadilha que tanta gente está caindo. Eu a vi a quilômetros de distância e não consegui dar um passo para o lado sequer.

Por algum motivo contra toda lógica, parece que eu nunca me coloquei sob tanta pressão de ser produtivo quanto agora. Fazer algo útil para valer o tempo. Sair disso com algo a provar.

Quando vi minha capacidade profissional diminuir, a primeira coisa que fiz foi forçar esses projetos. Já comecei e abandonei uns 5 nesse período.

Por quê? POR QUÊ??

Todo cérebro adora um loop


Depois de um tempo no nível que cheguei agora, oficialmente em depressão (autodiagnosticada portanto não-confiável), comecei a aceitar que talvez eu estivesse tão ansioso em evitar que essa hora chegasse que acabei a tornando mais aguda.

Como sempre, sou eu tramando contra eu mesmo pelas costas.

Bom, mas isso é problema para eu resolver. Seria ótimo ter medicação agora, mas vamos com o que temos à disposição.

O que eu queria mesmo era tentar usar esse exemplo para que você repare os mesmos sinais e pelo menos alguém nesse mundo não caia na armadilha.

É muito difícil passar por uma situação tão inédita e incerta. É uma montanha-russa só com a subida inicial. Parece tudo sob controle, estável, mas não dá para ver o fim. E quanto mais sobe, maior deve ser a queda do outro lado.

Bom, eu passei por isso e caí. O outro lado é bem baixo, mas o susto inicial da queda acaba virando uma reta. Sem muita expectativa. Com algum espaço para respirar.

E aí, aos pouquinhos, algumas curvas. Um frio na barriga retorna. Eu vou chegar lá, você vai ver.

Tentando adiar o momento, o que eu fiz foi só estender a subida. Será que eu nunca vou aprender? Às vezes, a melhor coisa a ser feita é segurar firme e aguentar o solavanco. Depois que estamos lá embaixo, ficamos muito mais leves para subir de novo.

PS.: Sim, bem emo. Já reli o texto e concordo com você.



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