Eizouken! Uma lição sobre imaginar a imaginação

Cena do anime Keep your hands of Eizouken!

Quando comecei a assistir “Keep Your Hands Off Eizouken!”, eu tinha poucas referências sobre. Sabia que era um anime sobre fazer anime e que por algum motivo, estavam chamando esse desenho lindo de feio.

Que bom que uma polêmica tão besta surgiu. Ela foi o empurrãozinho que eu precisava para assistir algo novo, diferente. Mal sabia eu que poderia aprender tanto sobre imaginação com 12 episódios de 20 minutos.

Anime sobre fazer animes

A premissa de Eizouken! não é nada complicada. São três amigas que se juntam por seu interesse em fazer um anime na escola. Mesmo sendo uma realidade futurística japonesa (dá para ir fundo nessa lore), é um tipo de história que ressoa bem em nossas memórias de infância e adolescência.

Quem nunca juntou os amigos para fazer um filme B na garagem?

Bom, muita gente. Mas é um exemplo, tá?

Existe uma idade nossa que é muito propícia à experimentação. Muito tempo livre, muitas possibilidades, muita vontade de explorar. E mesmo quando crescemos, quando a vida fica concreta demais para imaginar formas nela, esse sentimento ainda fica dentro de nós e arranca um sorriso quando algo o aflora.

Depois que terminei a temporada de 12 episódios, comecei a buscar opiniões de outras pessoas e notei que essa sensação é bastante comum. Tem algo em Eizouken! que desperta um calor, uma nostalgia em quem assiste.

Como uma obra tão simples pode fazer isso? Esse foi o estalo que me fez escrever o texto.

Representando a imaginação de forma mais imaginativa

Esse foi o melhor pior título que já escrevi

Não precisa de muito para perceber como a imaginação é o centro de Eizouken!. Todas as discussões e os conflitos da série passam em algum momento por suas protagonistas analisando de perto suas ideias, teorias, vontades.

Usar a imaginação como elemento de narrativa é muito comum em séries, filmes e histórias em geral. Mas há algo na forma como é feito no anime que traz sensações diferentes do que eu estava acostumado.

Na maioria dos casos, imaginar é tratado como um ato alheio à realidade. É representado com o personagem olhando para cima e efeito etéreo que corta para a cena dentro da mente. Tem até aquele efeitinho sonoro.

É comum também que essa parte represente o pensamento com um filtro de cores ou iluminação bem diferente da fotografia padrão no resto da peça.

Ou seja, existe a realidade e existe a imaginação. É exatamente por quebrar essa barreira que Eizouken! encanta tanto.

Ao longo da história, as três amigas passam a desenvolver o anime que querem produzir. Mas, antes da prática, é preciso discutir sobre o que pensam em fazer.

É aqui que vem a sacada. No anime, boa parte do tempo de tela é dedicado não ao mundo das protagonistas, mas ao que se passa dentro da cabeça delas enquanto discutem. Elas interagem ativamente com suas sugestões e esboços, elas visitam esses lugares e modificam seus pontos de vista na medida em que os criam.

Não há definição clara sobre quando é hora de entrar e sair da própria cabeça. Não há corte característico, nem efeito especial. A vida e o sonho acontecem ao mesmo tempo.


Não é assim com a gente?

A ingenuidade do ato de imaginar

É engraçado como eu só me dei conta disso de verdade assistindo Eizouken!. Existe uma forma emulada e replicada sobre o que é a imaginação no audiovisual, mas ela é bem diferente da própria experiência que todos nós temos no dia a dia.

Quando adolescentes se juntam para fazer um filme B na garagem, o resultado é o mínimo das preocupações. No momento em que estão gravando, são estrelas de cinema em um estúdio de Hollywood. Quando crianças estão brincando, são os próprios personagens.

Imaginar é um ato ingênuo, sem limites, que parte sempre do nosso ponto de vista. O que vemos e o que imaginamos coexiste na realidade e é a soma de como enxergamos o mundo.

Ninguém conseguiria aguentar a realidade se ela fosse a única coisa que existisse.

Essa é uma lição de um tamanho que muda a forma como conto histórias, mas também a forma como vivo. Separar a imaginação do que considero real é um atalho fácil na ficção e um desperdício de experiências na não-ficção.

As duas coisas acontecem ao mesmo tempo. É isso que dá cor e profundidade ao que somos.

Eu tenho certeza que é esse único ponto, simples e sutil, que causa o mesmo calorzinho no coração de quase todo mundo que assiste. É a sensação de bem estar que faz a gente terminar sorrindo. É uma validação de que sem sonhar, imaginar, experimentar, a vida vira concreto demais.

Quem diria que dá para aprender tanto em 12 episódios de 20 minutos.




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