Às vezes eu me esqueço de como gosto de escrever.
É um negócio que todo mundo sente, o famoso “só dá valor quando perde”. E olha que eu nem perdi a escrita, mas ter uma atividade como garantida dia após dia, texto após texto, deixa a gente meio anestesiado quanto ao que nos move de verdade.
Mas aí você toma um café, para e pensa. Você produz, você se despeja e a dorzinha gostosa de gengiva aparece de novo na mente. Foi esse incômodo que me fez participar de algo que nunca tinha levado muito em conta. Segue o fio! (Eu sei, não estou no twitter, mas acho tão legal falar isso)
Encontrando razões para escrever
Eu comecei a escrever como uma necessidade de sobrevivência, quase. Foi a única forma que encontrei para me expressar em um período impossível da minha vida: fim de faculdade, depressão e ansiedade que me levaram a não conseguir sequer procurar emprego.
Era uma sub-existência que não me contaram ser uma possibilidade real durante infância e adolescência. Naquela época, parecia tudo mais bem encaminhado. Mas vamos pular essa parte por enquanto.
O primeiro conto que escrevi na vida se chama “Um em um milhão”. Era basicamente uma conversa comigo mesmo. Talvez eu tenha que voltar a ele um dia, mas só vou publicar quando estiver muito famoso e por isso ele valer milhões de dólares.
(Sim, eu sei que a única chance de isso acontecer é depois de 200 anos morto)
A partir desse primeiro conto, acho que nunca parei mais de 2 meses sem colocar palavras na tela ou no papel. Porém, a dificuldade de conseguir qualquer resultado mais consistente no mercado editorial me levou ao desânimo e à dormência.
Desde 2017, quando comecei a trabalhar pra valer com redação, devo ter escrito um ou dois contos pequenos, algumas poesias (que só eu curto) e nada mais. O sonho não morreu, mas ficou muito à vontade em seu sono de urso hibernando.
Mais o que a gente ama sempre vira uma coceirinha quando está distante. Em 2019, uma vontade incrível surgiu em mim. Eu queria voltar a contar histórias.
Primeiro comecei meu projeto de visual novel, só que seu escopo é grande demais para uma pessoa e resolvi reservá-lo na geladeira.
Eu tinha a vontade, mas faltava foco, objetivo e planejamento. Sem querer, o mês de novembro me deu tudo isso.
NaNoNiNeWaWriMoSoNoQUÊ?
Lá pelos idos de 2012 ou 2013 resolvi que um blog era coisa do passado. A parada era ter um Tumblr de escrita criativa!(Sim, ele ainda existe por aí)
Foi nele e nessa época que tive contato a primeira vez com o National Novel Writing Month, ou NaNoWriMo, um projeto meio que espontâneo e meio que elaborado para incentivar a escrita surgido nos EUA. Eu podia pesquisar mais sobre ele? Podia. Mas você também.
A premissa dele é bem simples e direta: com um plano de ação, uma história na cabeça e uma comunidade que se incentiva, dá para escrever um romance em um mês.
Mas a beleza maior é enxergar a oportunidade como um objetivo. Foi isso que fiz. Um romance ou novela exige esticando muito o conceito umas 30 mil palavras no mínimo. Isso dá mil por dia. Eu já escrevo em média de 2000 a 3000 diariamente a trabalho, simplesmente não tenho stamina o suficiente para segurar essa média.
Por isso coloquei uma meta própria para meu mês de novembro: um conto de 10 mil palavras. E ainda tratei esse objetivo como uma sugestão, não uma obrigação. Foi a melhor coisa que podia ter pensado.
Enxergando mundos em riscos
Não sei se você já fez isto: fazer uns riscos aleatórios no papel, tentar enxergar alguma forma ali e completar o desenho seguindo o que imaginei.Sou só eu?
Para de me julgar!
Eu hein, você tá sempre me julgando.
Enfim, foi exatamente como eu abordei o meu NaNoWriMo. Eu tinha uma premissa, um final e o resto era resto. Comecei a escrever da forma mais solta que conseguia, sem compromisso de chegar a algum lugar.
Sim, eu em algum momento amarrei a narrativa e liguei a premissa ao final, mas a maior descoberta dessa experiência esteve exatamente nesse começo. Eu sou uma pessoa muito pragmática. Eu gosto de planejar muito quando vou fazer qualquer coisa. Eu marco horário para tomar café e fico ansioso se atraso. Eu sou desses.
Mas quando eu escrevo pareço outra pessoa. Eu gosto de soltar personagens no mundo e ver como eles se comportam. Eu gosto de histórias que não terminam, de pontas que não se conectam. Eu gosto de olhar para trás só no final e tentar adivinhar que forma outras pessoas vão dar aos traços que eu risquei.
Se um dia você tiver o ânimo de ler uma obra minha, talvez vai perceber isso. Talvez vai achar que não é um bom jeito de contar histórias, mas é meu jeitinho.
É o que me move.
Eu devo contar mais sobre o conto em janeiro, quando pretendo publicá-lo. Mas, por enquanto, só queria deixar esse relato registrado enquanto o sentimento está fresco na mente. Eu tive a sorte de encontrar algo que me movimenta, mesmo que seja para o lado errado. Agora é sentir o vento da brisa e esquecer um pouco das contas a pagar.
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